Segunda-feira, dia 1 do programa ‘adição.
Acordei passavam pouco das 06h00. Não conseguira dormir como deve ser, mesmo tendo todo o carinho e amor do Jorge. O dia nascia lá fora e uma luz ainda ténue passava pela cortina branca do quarto. Olhei para aquela pessoa que dormia ali ao meu lado e só me apetecia ficar ali, protegida, aninhada e acarinhada por aqueles braços. A minha vida tinha mudado, não sabia ainda que destino tomaria, mas tinha decidido viver um dia de cada vez. Não imaginava que passado tão pouco tempo tantas coisas já tinham acontecido a minha vida. Algumas delas vou querer lembrar para o resto da minha vida, mas outras, como a experiência do despedimento do callcenter será, definitivamente, para guardar nos recônditos da minha memória para numa mais deixar que algo semelhante me aconteça.
Levantei da cama fui a cozinha preparar um café. Tinha um misto de ansiedade, medo e curiosidade sobre o que iria acontecer comigo nas duas semanas de intensa actividade que iniciava naquela segunda. Fiz o café e comi uma torrada barrada com queijo creme, se bem que não tinha fome. A minha barriga, para variar, estava novamente cheia de borboletas. De repente lembrei-me do dia que fui a Casa do Impacto para fazer a minha apresentação ao júri, e que acabei por não ser selecionada. Mas foi graças a esta apresentação que conheci o José Marques. Entrei para a casa de banho e fui tomar banho. Já eram quase sete horas e tinha de estar em Alcântara pelo menos 30 minutos antes das 09h00, segundo as indicações que tinha recebido por email da Margarida. Quando acabei de tomar banho e entro no quarto reparei que o Jorge já estava acordado e já tinha se levantado. Chamei por ele e recebi uma resposta da cozinha dizendo que já estava a terminar o café e que iria somente tomar um banho rápido para depois me levar. Respondi que não era necessário e que iria de transporte público pois ainda tinha algum tempo.
“Bom dia Srª Maria Conceição. Por acaso a senhora acha que eu iria deixa-la ir sozinha no primeiro dia do teu curso? Nem pensar. já estou a caminho da casa de banho e faça o favor de me esperar. Quero ter a honra de desejar-te boa sorte antes de entrares.”
“És mesmo querido. Não precisa de vir. Fica a descansar um pouco mais. Ainda é cedo.”
“No way José!”
Não passaram sequer 15 minutos e, ainda antes de sairmos sou inquirida, qual uma criança, se tinha caderno para tomar nota e canetas suficientes. Só depois de verificar é que fechamos a porta do apartamento e seguimos para o carro. Durante a viagem o Jorge parecia um puto a cantarolar e a me incentivar para eu acreditar que tudo iria dar certo, que estivesse sempre atenta as potenciais oportunidades e que não visse as outras pessoas que iriam participar como concorrentes mas sim como futuros parceiros. Eu abanava a cabeça, até ouvia e sentia o seu entusiasmo, mas não parava de pensar no que se seguiria. Chegamos em Alcântara eram 08h25. Mesmo a justa. Despedimo-nos com um beijo e lá fui eu a entrar pelas antigas instalações da Carris em direção aos prédios mais ao fundo. Olhei para traz e o carro do Jorge ainda lá estava parado no mesmo lugar com ele a olhar e acenar adeus e levantar o polegar a dizer que ok. Subi as escadas ao primeiro andar, tal como fiz há cerca de um mês quando vim cá para a minha entrevista com o José Marques.
Logo a entrada encontrei a Margarida sentada numa mesa a dar as boas vindas a todos os novos elementos candidatos a empreendedores. Um sorriso de orelha a orelha da parte dela encontrou um sorriso meio tímido e envergonhado da minha parte.
“Olá Maria. Bom dia. Como estas? Espero que venhas muito motivada para duas semanas de muito trabalho e muito o que aprender!”
Sorri e respondi que sim, que tinha alguma expectativa sobre tudo o que iria acontecer.
“Muito bem. Deixa-me apresentar-te as pessoas que vão ser seus colegas de curso. Ainda não chegaram todos, mas já não faltam muitos.”
Acompanhei a Margarida para uma sala ao lado direito da entrada onde uma mesa grande tinha sobre ela várias chávenas de café, duas cafeteiras e vários pratinhos com bolinhos e biscoitos repousavam para dar as boas vindas aos recém chegados. A volta da mesa estavam cinco pessoas, três rapazes na casa dos 25-30 anos, uma rapariga que também estava na mesma faixa etária e uma senhora que aparentava uns 50 anos mas com muito bom aspecto.
“Bom dia mais uma vez. Quero vos apresentar a Maria Conceição, ela também vai participar no programa ‘adição’ convosco. Pedia por favor para cada um de vocês se apresentar, por agora somente o nome, idade e de onde vem por favor. Deixaremos as apresentações mais detalhadas sobre cada um, além dos projectos, assim que tivermos todos reunidos a partir das 09h00.”
“Olá Maria, sou o Mário, tenho 26 anos e venho de Almada”
“Bom dia Maria, sou o Miguel tenho 27 anos, venho de Almada e sou amigo de infância do Mário.”
“Alô, sou a Kátia, tenho 32 anos, vivo no Barreiro e estou em Portugal há 5 anos. Sou natural do Belo Horizonte em Minas Gerais.”
“Olá Maria, sou a Lurdes, tenho 53 anos e vivo em Benfica.”
“Olá Maria, sou o Carlos, tenho 29 anos e vivo no Areeiro no centro de Lisboa.”
“Olá a todos, obrigado pelas vossas apresentações. Como a Margarida disse, sou a Maria Conceição, tenho 34 anos e vivo em Odivelas.”
“Bom agora que estão feitas as apresentações iniciais, peço-vos que aguardem mais 20 minutos por favor até eu vos chamar para entrarmos e darmos inicio a formação.”
Nos minutos seguintes, os rapazes ficaram sentados num banco corrido ao pé da mesa da comida e eu me juntei a Katia e a Lurdes. Estivemos a conversar sobre o percurso de vida de cada uma e num piscar de olhos já tínhamos a Margarida ao pé de nós novamente.
“Bom, vamos então? O último elemento que estávamos a espera parece que não virá. Queiram por favor me seguir até ao fundo da sala.”
Seguimos em fila atrás da Margarida e no fundo do corredor entramos numa área mais larga onde do lado esquerdo havia uma espécie de arquibancada em madeira com 4 níveis. A frente da arquibancada uma tela gigante apresentava uma imagem de uma mulher e por baixo uma frase a indicar ‘sejam bem-vindos’. Na arquibancada, em espaços separados, estavam almofadas baixas para sentarmos e ao lado uma mesinha individual do género das que se usam para levar o café na cama. Cada um de nós sentou-se mais ou menos afastados e em níveis diferentes e abrimos a nossa frente as mesinhas de apoio onde cada um pousou um bloco para tomar notas e canetas. Depois de estarmos acomodados o José Marques veio ter connosco para as boas-vindas.
“Bom dia a todos. Espero que estejam confortáveis. Em meu nome e de todos que trabalham aqui no projecto ‘adição’ quero vos dar as boas-vindas e desejar que durante as próximas duas semanas, todos consigam atingir os objectivos que vos iremos traçar. Para já peço que ponham o telemóvel no silêncio e que, durante o dia, se puderem não atendam chamadas. A concentração é muito importante pois serão dias de muito trabalho individual e colectivo. Começamos hoje uma jornada onde vão aprender muitas técnicas e onde vamos pôr a prova as vossas ideias de projecto para assegurar que podem ser implementados e têm capacidade de sustentabilidade para existir.
De uma forma global, o primeiro passo será a apresentação formal dos vossos projectos, qual a ideia principal e como pensam ser a forma de subsistência do projecto. Quem deseja começar?”
Ficamos a olhar uns para os outros e como ninguém se adiantou, o José Marques pediu a primeira pessoa que estava mais perto dele na base da arquibancada que começasse. Neste caso a Kátia foi a primeira a falar.
“Bom dia mais uma vez, sou Kátia Santos tenho 32 anos, sou brasileira e cheguei a Portugal há cerca de 5 anos. Vivo no Barreiro, tenho uma formação superior na área do ensino de crianças. O meu projecto não tem nome ainda mas o que trago é uma ideia para criar creches comunitárias de baixo custo para o cuidado de crianças que permita aos pais conhecer a comunidade de pais mais próxima e trocar de forma gratuita, espontânea e segura, serviços de babysitting. Quando a forma de subsistência ainda não sei como fazer isso e vou precisar da vossa ajuda para me ajudar a identificar.”
“Obrigado Kátia. Seguimos para a próxima pessoa. Lurdes, por favor.”
“Bom dia a todos. Sou a Lurdes Azevedo tenho 53 anos e vivo em Benfica. Trabalhei toda a minha vida como esteticista e devido a um divórcio litigioso perdi tudo. Como não sou pessoa de desistir, quero criar um projecto de uma cadeia de profissionais on-demand de serviços de beleza acessíveis e prestado na casa dos clientes. Os serviços serão prestados por profissionais de estética que incluem pessoas com maior vulnerabilidade no acesso ao mercado de trabalho. A forma de subsistência do meu projecto será através da cobrança de uma percentagem ao profissional por cada trabalho atribuído e prestado por ele.”
“Excelente Lurdes. Muito obrigado pela partilha. Próximo.”
“Olá a todos. Sou o Mário Salazar, tenho 26 anos, vivo em Almada e terminei há cerca de um ano o curso de Engenharia Aeroespacial na Universidade Atlântida. Tentei encontrar trabalho em Portugal e na Europa na minha área, mas não consegui ainda uma colocação no mercado. O meu projecto é o ‘eu-alugo.com’ e é uma plataforma que permite qualquer pessoa alugar, a preços reduzidos, artigos de uma outra pessoa por um período curto de tempo, como por exemplo artigos de desporto, caça, jardinagem ou mesmo construção. A forma de subsistência do projecto será cobrando uma percentagem do aluguel a quem disponibiliza e outra a quem aluga.”
“Obrigado Mário. Próximo por favor.”
“bom dia. Sou o Miguel Pereira tenho 27 anos, também vivo em Almada e sou amigo de infância do Mário. Sou Licenciado em Informática e estou, juntamente com o Mário, a querer implementar e gerir o projecto eu-alugo.com.”
“Bem-vindo Miguel. Próximo por favor.”
“Bom dia, sou o Carlos Torino, tenho 29 anos, vivo em Lisboa. Não sou licenciado. Tenho o 12º ano e sou um apaixonado e entusiasta pela culinária onde adoro poder usar o meu conhecimento de cozinha para ajudar os outros. O meu projecto tem o codinome ‘Barriga Cheia’ e o que pretendo fazer é ir a estabelecimentos que tenham produtos alimentares frescos e que já não possam ser vendidos ao publico por estar “tocados” ou a estragar-se, possam ser doados ao projecto ‘Barriga Cheia’ que vai usá-los para preparar refeições que serão depois distribuídas aos sem-abrigo e pessoas ou famílias que não consigam ter uma refeição completa diária. A forma de subsistência que tenho pensada, e que trago para validação, será através da venda de refeições por preços muito baixos a pessoas que não estejam incluídas nos grupos de beneficiários. Outra coisa que o projecto precisa é do apoio de entidades de solidariedade social para disponibilizarem um espaço com condições para prepararmos as refeições.”
“Obrigado Carlos. Próxima por favor.”
Era a minha vez. Senti as pernas tremer, mas mesmo assim enchi o peito de coragem e levantei para me apresentar.
“Bom dia a todos. Sou a Maria Conceição, tenho 34 anos e vivo em Odivelas. Não sou licenciada. Trabalhava até a pouco tempo em três empregos e de um momento para o outro perdi todos eles, mas isso é outra história. O meu projecto é o ‘Maria Costureirinha’ e tem o objectivo de criar um espaço onde mulheres que não tem trabalho possam aprender a costurar e depois prestar serviços de reparações ou mesmo criação de novas peças de roupas para a comunidade a preços reduzidos. A forma de subsistência do projecto é através de uma comissão cobrada sobre o valor do custo de reparação das roupas e também uma comissão sobre o valor de venda de peças novas criadas pelas alunas. Uma parte substancial do que for arrecadado no serviço de reparação ou da venda de peças novas é direcionado para a mulher que trabalhou. Será uma forma de criar uma nova dinâmica e de incentivar a criação do próprio emprego.”
“Muito bom Maria. Obrigado pela tua apresentação. Agora que já se conhecem uns aos outros, permita-me apresentar quem são as pessoas que irão vos acompanhar durante as próximas duas semanas. Eu sou o José Marques e sou o criador do projecto ‘adição’. Durante o vosso curso, o meu papel é o de dinamizar sessões de validação das ideias com base nos trabalhos que vão realizando durante o curso. Não há da minha parte nenhum juízo de valor, ou seja, não há boas ideias ou más ideias. O que existem são projectos e o que vou fazer convosco e validar se acreditam ou não na viabilidade do projecto. Ao meu lado está a Margarida, que todos já conhecem das várias interações, antes de hoje, e ela será a vossa coordenadora de curso. Será ela a vos receber todos os dias e fazer o controle dos tempos e do cumprimento do calendário, que para vossa informação, será muito intenso e exigente. A Margarida vai assegurar que todos, eu incluído, cumprimos este calendário. A seguir está o Jason que como podem ver pelo seu sotaque não é Português, será responsável pela módulo de redes sociais onde vos ensinará todas as técnicas e ideias para tirarem partido das redes sociais em prol do vosso projecto. Durante a semana, iremos vos trazer vários outros mentores para vos transmitir ideias e partilhar experiências. Por fim há uma pool de mentores e coaches que estão ligados ao projecto ‘adição’ e que depois de terminadas as duas semanas, serão atribuídos a cada um de vocês e vos acompanhará de acordo com o que for estabelecido entre o projecto ‘adição’, vocês e o mentor/coach. Tudo claro até aqui?”
Todos balançamos a cabeça afirmativa e ninguém contestou.
“Continuando. Como disse são duas semanas intensas e vos será exigido que todos os dias as 09h00 estejam já aqui neste local sentados nos vossos locais para darmos inicio ao dia de trabalho. As 11h00 faremos um intervalo de 15 minutos e teremos uma mesa ali ao lado com café, bolos e biscoitos. As 11h15 pontualmente começamos e terminamos as 13h00. Terão uma hora de almoço e, para que não haja dispersão da atenção, conseguimos o patrocínio de um restaurante aqui perto que nos trará comida todos os dias e assim aproveitamos a hora do almoço, para em conjunto, continuarem a trabalhar. As 14h00 voltamos para aqui e seguimos até as 16h30 onde há um novo intervalo de 15 minutos. Depois vamos continuar a trabalhar até as 19h00. Todos os dias haverá trabalho de casa a ser feito. Este TPC poderá ser feito em casa, sozinhos ou então poderão continuar aqui até cerca das 21h00 que e quando fecham o local. Quem optar por ficar aqui a trabalhar tem de ter em atenção que no dia seguinte terá de voltar novamente aqui as 09h00. Alguma questão?”
Ninguém abriu a boca. Estávamos todos atentos aos que o José Marques dizia.
“Assim sendo, como não há questões, passo a palavra a Margarida e desejo a todos boa sorte e que consigamos chegar juntos até ao final destas duas semanas. Ah! Uma última coisa que já me ia esquecendo. Não são toleradas faltas. Quem faltar, independentemente do motivo já não poderá continuar. Temos um programa rigoroso e feito ao milímetro para o tempo que temos disponível. Todos terão de estar sincronizados nas tarefas e não podemos admitir atrasos por alguém ter faltado. Bom dia a todos, mais uma vez obrigado pela vossa decisão de participar e boa jornada de trabalho. Margarida, agora é contigo.”
“Obrigado Zé. Agora que todos já conhecem as regras do curso, quero vos dar a conhecer a programação toda do que vai acontecer no dia de hoje. Como já foram informados, iremos trabalhar durante o sábado e domingo próximos para que possamos cumprir o plano e assim, na sexta-feira da próxima semana as 18h00 terminamos. Então o programa do curso hoje é o seguinte.”
Na tela gigante na parede por detrás da Margarida aparecia a imagem do programa ‘adição’ para o dia de hoje.
Dia 1 – Conceitos básicos do Modelo de Negócio Canvas
- O que é um Modelo de Negócio Canvas
- Para que serve um Modelo de Negócio Canvas
- Identificação e entendimento dos 9 pontos do Modelo de Negócio Canvas
- Exercício prático de preenchimento do Modelo de Negócio Canvas
- Validação do primeiro Modelo de Negócio
- TPC: Preenchimento do Modelo de Negócio Canvas
- Formador: Marcos Lima
Uma nova jornada na minha vida começava a tomar forma. Nesta segunda-feira iniciava uma nova jornada na minha vida. Vamos a trabalho.